19 de out
*por Ricardo Takahira
Em fase de preparação para atividades presenciais, munidas de um legado de lições aprendidas com o Inovar Auto e agora com o primeiro ciclo do Rota 2030 cumprido para implementação em 2050, o que esperam as montadoras e autopeças para virar a chave da eletromobilidade no País? O que já foi feito de concreto?
Até aqui uma tímida localização ocorreu com o híbrido flex, boas surpresas no segmento de pesados e, como previsto, novas iniciativas em frotas e inovações na micromobilidade elétrica. Isso tudo é pouco em relação ao que já acontece na Europa, Ásia e nos EUA onde, mesmo com prioridade para o petróleo, há novidades com elétricos.
O Brasil é um país abençoado com tantas possibilidades energéticas e opções de combustíveis renováveis sustentáveis. Mas ainda carece de um marco regulatório mais incisivo, com datas e objetivos para justificar nas matrizes das OEMs as ações locais, e ir além da mera aplicação e suporte a produtos totalmente importados.
No caminho da mobilidade brasileira eletrificada há oportunidades e desafios para o desenvolvimento dos novos projetos. Como adequar o parque industrial e a cadeia de suprimentos, que exigem novos investimentos para o spin off? Estamos preparando o novo profissional para essa missão?
Tradicionalmente focamos atenção na mobilidade sobre rodas, mas a revolução elétrica surpreende em outros modais. O Brasil, que já é exportador de aviões, agora ingressa solidamente no mercado de eVTOL, novo veículo elétrico misto de drone, helicóptero e avião, com anúncios de compra pelas principais companhias aéreas operantes no País.
Motivado pelo sistema elétrico metroferroviário presente há décadas, o setor marítimo dá passos em direção aos combustíveis verdes, como o Hidrogênio (H2), solução também apontada para os veículos pesados fora do ambiente urbano para melhorar a autonomia. No Agronegócio o biocombustível combinado a fazendas solares, biodigestores e etanol de 2ª geração, pode alavancar infinitas possibilidades para o nosso País além da exportação de tecnologia.
Embora tenha sofrido com a pandemia, a micromobilidade cresceu assustadoramente no e-commerce, com e-bikes, e-Vans e scooters elétricas, fenômeno sem volta no comércio eletrônico e delivery,e não mais só restrito ao fast food.
Avançamos na infraestrutura também. Eletrovias se somam aos eletropostos em pontos comerciais e estacionamentos de shopping centers, com instalações de recarga em pontos estratégicos e uso próprio em frotas elétricas. Novos modelos recém-lançados no País trouxeram a realidade do sistema fotovoltaico CCS2, além do existente ChaDeMo, método de carregamento rápido para veículos elétricos à bateria.
No segmento de veículos pesados vários projetos de eletrificação e conversão com players e indústria local estão em curso. Legislações com foco em renúncia fiscal para os elétricos, além de exigência de infraestrutura de recarga em novos condomínios comerciais e residenciais começam a surgir na cidade de São Paulo e já contaminam gestores públicos de outras metrópoles brasileiras. Ações que, somadas às leis ambientais, fortalecem o emprego de veículos elétricos nas frotas das empresas.
Há espaço para avanços significativos no estímulo à mobilidade elétrica. E para o aumento do volume de vendas, o incentivo real está na localização do desenvolvimento com engenharia local.
Com boas iniciativas no setor já é hora de pensar nos próximos passos, como por exemplo o que fazer com as baterias tracionárias ao final da vida e o reuso no setor de energia com aplicações estacionárias, especialmente em energias renováveis. Há também muito a ser trabalhado do ponto de vista regulatório para que projetos de excelência desfrutem as vantagens dos programas públicos de forma sinérgica.
É bom comprovar que estamos caminhando na direção certa da mobilidade sustentável. Com tantas opções no País talvez tenhamos demorado a decidir por qual caminho iniciar a jornada. O futuro nos reserva boas expectativas. Atualmente a automatização e conectividade (o carro 100% elétrico nasce conectado) podem alavancar a localização da Era Elétrica, Autônoma e Conectada em novas plataformas hibridas ou elétricas, pois ninguém mais vai aplicar essas soluções em veiculos à combustão fóssil.
Esses temas e outros relacionados à eletromobilidade brasileira serão apresentados no 10º Simpósio Veiculos Hibridos Elétricos da SAE BRASIL, e debatidos por especialistas na matéria em seus diversos modais. A mobilidade brasileira sustentável é o nosso objetivo.
*Ricardo Takahira é vice-coordenador da Comissão Técnica de Veículos Elétricos e Híbridos da SAE BRASIL