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Você já pensou sobre a relação entre diversidade & inclusão, mobilidade social e urbanismo?

17 de dez

Pensar nos desafios de Diversidade e Inclusão (D&I) e correlacionar essa reflexão com os temas urbanismo e mobilidade social, nos lança oportunidades concretas de intervenções coletivas que resultem em maior acesso aos direitos que todas as pessoas já possuem, porém, não conseguem usufruir.

Em um artigo publicado por Paulo Tafner no InfoMoney em Maio de 2021, lemos que “…dois de nossos principais problemas no Brasil são: a desigualdade e a baixa mobilidade social. No Relatório de Desenvolvimento Humano 2019, elaborado pelas Nações Unidas, dentre 151 países com informações sobre o Índice de Gini, figuramos na desonrosa posição 144.

… se existir a chance de qualquer indivíduo migrar para estratos mais altos de renda e educação de forma semelhante, então há um mecanismo de redução estrutural da desigualdade social. Não é isso, porém, o que acontece no Brasil. Apenas um exemplo: praticamente 70 de cada 100 crianças nascidas em famílias cujos pais têm superior completo também atingem essa escolaridade e com ela alcançam os melhores postos de trabalho. Entretanto, se forem filhos de pais sem instrução, apenas quatro de cada 100 chegarão ao nível superior e com ele disputarão com chances os melhores postos de trabalho.

O grande desafio é tornar mais iguais as oportunidades de todas as crianças e jovens, de modo que as diferenças de resultados sejam expressão da variedade humana, dos talentos, das virtudes,” Infomoney em 08/12/2021.

A oferta de igualdade de oportunidades, ou ainda, de equidade de oportunidades, é uma das principais missões de quem atua com D&I. Quando olhamos os indicadores de diversidade das empresas, analisamos a consequência de um problema estrutural que precisa ser atacado com mais energia e foco.

Mas o que pode ser feito?

A urbanista e especialista em desenhos de espaços públicos e infraestrutura urbana Marina Vasarini Lopes nos apresentou como a oferta igualitária de mobilidade urbana pode ampliar o acesso a oportunidades iguais de trabalho. Segundo ela, a maioria das cidades brasileiras é desigual na oferta de meios de transporte, seja pela ausência de transporte público nas periferias, pelo alto valor das passagens ou pela pouca acessibilidade da infraestrutura existente. Com isso, pessoas de baixa renda, com deficiência e de pele preta possuem mais dificuldades em acessar os locais de trabalho e educação.

Para reverter esse quadro, políticas públicas e vontade política são necessárias e já estão sendo colocadas em prática. Um bom exemplo é o novo modelo de transporte sendo implementado pela cidade de São José dos Campos, no interior de São Paulo, que utilizará o transporte sob demanda por aplicativo para atender zonas periféricas. (Fonte: Relatório “Mobilidade do Futuro: um Modelo Disruptivo para São José dos Campos” FGV 2019). Outro bom exemplo é o projeto “Caminhos da Escola”, em Fortaleza, que utiliza o Urbanismo Tático, uma intervenção temporária e de baixo custo, para transformar os arredores de escolas públicas. Com ele, o espaço público se torna um local lúdico e seguro, estimulando as crianças a caminharem até a escola. (Fonte: Global Designing Cities Initiative, 2020)

A oferta de educação formal e informal, rica em estímulos diversos, com possibilidades de interações com modelos sociais diferentes daqueles em que nasceu, ampliam as possibilidades de uma criança desejar e se engajar em projetos que a ajudarão a ocupar melhores espaços sociais, algo que sem esse estímulo e possibilidade de acesso, ela sequer descobrirá que existe. Saber que existem muitas profissões que ela pode escolher seguir, além das profissões realizadas pelos familiares, impulsiona o desenvolvimento de cada uma delas.

Para o Adriano Bandini, psicólogo especialista em Diversidade, Inclusão e neurociência, a estimulação educacional de qualidade em crianças e jovens, pelo menos até os 24 anos, é de extrema importância para o desenvolvimento das relações neurais entre as áreas do cérebro que controlam as emoções e a capacidade do córtex pré-frontal de administrar esses impulsos emocionais de formas cada vez mais eficientes, lançando entre outros benefícios a melhora na autodisciplina, relação de causa-consequência e prevenção de comportamentos impulsivos e agressivos que muitas vezes poderão trazer ainda mais prejuízos e limitações para sua vida.

A riqueza das conexões neurais de todas as partes do cérebro exige saúde e estimulação para alcançarem o melhor resultado possível. Uma sociedade que oferta essas oportunidades apenas a uma parcela dos jovens está deliberadamente criando grupos privilegiados enquanto abandona à sorte, os demais.

Créditos:
Marina Vasarini Lopes, arquiteta urbanista, especializada em desenho de espaços públicos e infraestrutura urbana sustentável.
Adriano Bandini, psicólogo, especialista em Diversidade, Inclusão e Neurociência.

Artigo escrito a partir do evento CONVERSAS INSPIRADORAS ocorrido em 08 de novembro: A Inclusão da Diversidade e os Desafios da Mobilidade e transmitido pelo  Canal SAE BRASIL no YouTube: