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Ruptura por meio dos novos conceitos de mobilidade

3 de dez

Painel Internacional do WEB FÓRUM discute como a mobilidade impactará clientes, meio ambiente, mercado, operações e negócios no futuro

Ao longo da última década, a indústria automotiva passou por inúmeras mudanças de cenários, impactando as decisões das grandes companhias pelo mundo. Na atual realidade, os novos conceitos de mobilidade e tecnologias terão impacto na promoção de modelos de negócios disruptivos, na infraestrutura e na sociedade.

Para debater os esses desafios e o impacto da mobilidade na indústria, o encerramento do primeiro dia de WEB FÓRUM SAE BRASIL, em 1º de dezembro, foi com o Painel Internacional, intitulado “Ruptura por meio de novos conceitos de mobilidade – Impacto nos clientes, mercado, operações e negócios”.

O Painel foi moderado pelo engenheiro de Desenvolvimento de Produto da Mercedes-Benz do Brasil, Jonathan Peter Marxen, que salientou a dificuldade do ano de 2020 e como esse momento desafiador impactou nas decisões estratégicas gerais dos negócios regionais e globais.

Globalmente, diferentes iniciativas estão conduzindo ao desenvolvimento um ecossistema de mobilidade com características sem precedentes de integração e conectividade. A evolução do desenvolvimento deste ecossistema tem mostrado escolhas, oportunidades e desafios.

No novo cenário, eletricidade, conectividade e sustentabilidade estarão cada vez mais em pauta.  Agora, quem ganha espaço são os novos conceitos de mobilidade, fontes de energia, conectividade e condução autônoma que ainda requerem investimentos na infraestrutura necessária.

Modelando a mobilidade para as futuras gerações

O vice-presidente de Compras Região SAM da Volkswagen do Brasil, Martin Fries, destacou que a indústria automobilística passou por uma grande evolução desde o seu nascimento, dedicando os primeiros 50 anos à inovação de movimento, depois qualidade, confiabilidade e inovação, até os dias atuais nos quais os smart cars são realidade. Para o futuro, a demanda será o desenvolvimento de vias e veículos elétricos/connect car e autônomos.

“A verdade é que o tempo de inovação está cada vez mais curto. Nos últimos três anos saímos do smart car e focamos em carros elétricos. A tendência é que essas evoluções venham em um tempo muito menor daqui para frente”, pontuou. De olho nesse mercado, a Volksvagen pretende investir 73 bilhões de euros nos próximos anos em electromobility, hybridization e digitalization, em uma meta para até 2050 ser uma empresa neutra em emissão de CO2.

Uma projeção realizada pela J.P Morgan e apresentada por Fries mostra que de 2015 para 2030 aproximadamente 60% do volume mundial de carros serão  elétricos ou híbridos.

A matriz energética dos países que receberão essa tecnologia será a base para definir as estratégias futuras. Hoje, no Brasil, cerca de 50% da matriz energética vem de fontes renováveis. Para desenvolver ainda mais esse mercado é preciso que se foque em políticas públicas para a promoção do etanol, assim como em estratégia de fomento dos carros híbridos/elétricos.

“Essa energia renovável é muito importante para reduzir a emissão de CO2, porém também existem outras fontes de geração de energia limpa, como a eólica e solar, que devem ser fomentadas, considerando o potencial do Brasil. Até 2050, a indústria da mobilidade precisa de incentivos do Governo para atingir um patamar de pilar estratégico, ou seja, é necessário fortalecer a matriz energética do Brasil”, ressaltou Martin Fries.

As megatendências mundiais e a transformação no sistema de mobilidade

Para o Chief Operating Officer (COO) da TOGG, Sergio Rocha, a nova perspectiva de mercado se baseia no conceito de Use-Case Mobility. Para ele, a indústria automobilística global já vive uma transformação, na qual o auto passa a ser parte de um mobility ecosystem, integrando as megatendências que solidificarão as tecnologias dos veículos elétricos e autônomos.

“As megatendências geram um mundo totalmente integrado, ao qual podemos chamar de ‘smart new world’, no qual o veículo se torna um terceiro living space, depois da nossa casa e do espaço que temos para o trabalho”, detalhou Rocha.

Hoje, o mobility ecosystem da indústria automobilística agrega os novos modelos de serviços e negócios de forma conectada. “Vemos smart vehicles conectados a smart grid, que são conectados a smart cities. Esse ciclo propicia uma conexão em tempo real, quando o usuário se translada do campo A para um ponto B, totalmente suportado por IoT (internet das coisas)”, explicou.

Ainda de acordo com o COO, as megatendências impactam a rentabilidade e também os modelos de negócio. De acordo com estimativas, em 2018 somente 1% dos lucros no mundo automobilístico foi proveniente de novas tecnologias (elétrico, autônomo e conectado); já para 2035, a projeção é que esse valor seja 40% do rentabilidade global.

Atualmente, 29 dos Original Equipment Manufacturer (OEM – Fabricante Original de Equipamento) têm anúncios e estão trabalhando com mais de 300 bilhões investidos em engenharia elétrica. A China responde por praticamente metade desse montante. De 2018 a 2022 se prevê 60 novos modelos de carros elétricos sendo lançados.

“Entendemos que no futuro próximo as empresas melhor sucedidas serão as mais ágeis, criativas, que trabalham em um sistema colaborativo e, acima de tudo, user-centric, ou seja, focado em eletric vehicles”, detalhou Rocha, completando: “Existem três elementos-chaves em um veículo elétrico: ele precisa ser único, robusto e confiável; do ponto de vista da marca, é necessário ter prestígio, ser dinâmico, tecnológico e inovador; e, principalmente, criar inspiração para ajudar o cliente nessa transição”.

Extrair valor dos novos serviços de mobilidade

Procurando ampliar sua visão para além do universo automobilístico, essa foi primeira vez, em 20 anos, que o Painel Internacional contou com uma apresentação feminina, seguindo uma tendência que se fortalece com a presença das mulheres no setor.

Para a Associate Director Industry X da Accenture Brasil, Renate Fuchs, as novas formas de mobilidade estão emergindo e já alcançaram um volume significativo de mercado. Nos últimos dez anos houve uma evolução na disponibilidade de veículos para uso próprio e transporte coletivo, assim como mobilidade por demanda.

Embora a maioria dos serviços de mobilidade exista há menos de dez anos, seu crescimento tem sido rápido. Após sua fase inicial, os serviços estão amadurecendo, enquanto os fornecedores estão se esforçando para escalar e monetizar. Os Estados Unidos, hoje, lideram o mercado de serviços em mobilidade, com um valor de quase 80 bilhões de dólares, um crescimento de 30% de 2016 a 2018. “Sabemos que a demanda existe e, por isso tantos novos modelos de negócio estão surgindo a partir da necessidade dos usuários no âmbito de mobilidade”, completou Renate.

A especialista salientou que essa evolução traz um potencial de agregação de valor não só para o indivíduo, mas para a sociedade, ao meio ambiente e para a economia. Por outro lado, ainda existem várias limitações no que diz respeito à lucratividade desses serviços de mobilidade, sendo essa a grande dor das empresas que trabalham com o tema.

“Se analisarmos o valor do serviço de mobilidade, podemos destacar quatro categorias, o individual, o social, o ambiental e o econômico. No entanto, o mercado ainda não consegue transformar a criação de valor em lucratividade. Em termos de usuário, eles começam agora a repensar qual o melhor meio de mobilidade, o que dá mais segurança para a sua saúde, e isso definitivamente impacta a decisão de qual meio utilizar, se vai comprar um carro ou utilizar o transporte público”, elucidou Fuchs.

Fica claro para as indústrias e especialistas que os consumidores não sabem bem como tomar decisões relacionadas à mobilidade, avaliando qual o melhor custo benefício, a melhor experiência, a otimização de trajeto, entre outros fatores. Além disso, muitas pessoas ainda pensam em ter seu transporte próprio e não estão abertas para migrar para o serviço de mobilidade. Da mesma forma, existe dificuldade em conseguir atenção dos governos para que os serviços de mobilidade possam realmente ter sucesso.

“Isso porque existe um grande gap em regulamentos, e vemos os players e todas essas demandas de forma muito separada. Isso explica a razão de vários modelos novos terem muita dificuldade para se estabelecer nesse mercado tão dinâmico”, afirmou Renate, destacando três pontos que precisarão ser identificados e trabalhados para que se possa gerar mais valor por meio dos serviços de mobilidade.

  1. Ter um sistema regulatório cobrindo esse novo cenário: um ambiente mais interessante com um market place capaz de atender todos que estejam atuando nele, bem como uma regulamentação focada na relação dos custos e preços da mobilidade.
  • Otimizar a mobilidade olhando para a frota existente: com o intuito de melhorar o tempo de atividade dos veículos, frotas operadas separadamente devem ser combinadas para aproveitar as sinergias entre os serviços.
  • Investir em novos serviços de mobilidade: os OEMS devem oferecer aos seus clientes uma abordagem evolutiva em serviços de mobilidade, ou seja, as montadoras precisam pensar no desenvolvimento de seus produtos em veículos para serviço.

“É essencial começar a se pensar em trabalhar serviço e oferecer o melhor para quem está utilizando o transporte público, deixando as informações mais explicitas para conseguir atender mais e melhor as demandas que existem hoje nas cidades”, reforçou Renate Fuchs.

Os novos conceitos de mobilidade passam pelas novas formas de fazer negócio por meio de parcerias

Para o diretor de Compras América Latina da Mercedes-Benz do Brasil, Matthias Kaeding, o futuro é positivo e hoje a indústria tem a chance de desenvolvê-lo, não apenas com automóveis, mas também diminuindo os impactos ambientais e focando em sustentabilidade, produção e desenvolvimento social.

“Pensar em mobilidade para o futuro é analisar todos os impactos que ela terá na sociedade, como os sociais, sustentáveis, tecnológicos e de energia. Nesse sentido, é importante analisar como cada um desses itens impacta os diferentes países e mercados do mundo, compartilhar informações para diminuir os riscos e aumentar a velocidade com a qual estamos projetando as inovações”, explicou Kaeding.

Para desenvolver um futuro automobilístico conectado e sustentável é preciso que a indústria de automóvel seja flexível, esteja atenta aos acontecimentos do mundo, ouça os clientes e sempre busque soluções para as mais diferentes dificuldades.

“No meu ponto de vista, precisamos olhar o futuro além da tecnologia, focando na infraestrutura e no ecossistema. Isso porque a cadeia de valor dos negócios está mudando, impactada por novos conceitos de transformação”, salientou o executivo.

Hoje o mercado conta com novos players mais inovadores, tecnológicos, com infraestrutura e que apresentam diferentes possiblidades com plataformas da mobilidade, novos tipos de transporte e frotas, que impactam diretamente o atual modelo de negócio.

“O novo modelo de negócio no qual acredito e investimos passa pelo fortalecimento das parcerias. Por isso temos que focar em demandas mundiais com fornecedores confiáveis no mercado, que entregam uma grande variedade de peças, em um tipo de ação que também se traduz na redução de custos e na sustentabilidade, que continuará sendo o principal desafio e objetivo da indústria”, ressaltou.

Na visão de Kaeding, a indústria ainda tem tempo para evoluir e o importante agora é analisar o todo que acontece no mundo, as demandas, os eventos e o consumidor. “Precisamos ter consciência do impacto de nossos produtos e para evoluir teremos que trabalhar juntos, sempre focados em diferentes mercados, uma vez que a solução dos atuais gaps passa pelas parcerias. Dessa forma conseguiremos atender as demandas dos clientes no futuro, com tecnologia e um ecossistema unido, com novos serviços e modelos de negócios”, projetou Matthias Kaeding.

Mesa redonda

Através das questões geradas pelo público, os painelistas foram unânimes em afirmar que as tendências da globalização e os novos conceitos da mobilidade não podem ser implementados de forma igual em todas as regiões do mundo. Características regionais de matriz energética, poder aquisitivo, infraestrutura dos países, aceitação pública e regulamentações precisam ser levadas em consideração pelos players neste complexo cenário.