4 de dez
Painel Transformação Digital II no último dia do WEB FÓRUM SAE BRASIL discutiu a evolução tecnológica e sua aplicabilidade
A segunda parte do Painel Transformação Digital, que compôs o último dia do WEB FÓRUM SAE BRASIL, discutiu o papel da evolução tecnológica para a sobrevivência da indústria da mobilidade e como o negócio pode ser sustentável técnica e economicamente e ainda estar preparado para novas ondas de tecnologia.
A partir do tema “A integração sustentável da mobilidade através da transformação digital e conectividade”, participaram da discussão o CEO da Semantix, Leonardo Santos, o Presidente da Siemens, Pablo Roberto Fava, o Diretor de Tecnologia de Operações da Mercedes-Benz do Brasil, Pedro Afonso e o Sócio-Diretor da Liga Ventures, Rogério Tamassia. O debate contou com a moderação do Diretor do Lean Institute, Christopher Thompson.
O papel da transformação digital para a sobrevivência da indústria da mobilidade esteve no centro das discussões e um dos exemplos trazidos pelo Diretor de Tecnologia de Operações da Mercedes-Benz do Brasil, Pedro Afonso, foi a criação pela empresa, há cerca de três anos, de uma área de tecnologia e operações, voltada para a digitalização e automação do negócio, trazendo agilidade e melhorando os processos. “Independentemente das tecnologias, trabalhamos para que o negócio seja sustentável técnica e economicamente e que esteja preparado para novas ondas de tecnologia também, não só para hoje, mas para daqui 20, 30 anos”.
Ele explicou que isso foi feito estruturando a operação em pequenos ecossistemas, utilizando os pilares da Indústria 4.0. “Colocamos nove pilares tecnológicos, como cyber security, robôs colaborativos, manufatura aditiva, entre outros, e um décimo pilar, que eu considero o principal dessa estratégia, que são as pessoas. Conectar sistemas, tecnologias, mas sempre tendo as pessoas em primeiro lugar”, ressaltou.
Para isso, Afonso diz que foi preciso olhar para um ecossistema mais amplo para o entorno da companhia, e trabalhar com parceiros: as startups; as empresas já tradicionalmente parceiras, mas que estavam se reinventando para a transformação digital; parceiros não comerciais, como universidades e escolas; parceiros fornecedores, e a partir daí começar todo um processo de envolvimento com eles, troca de informações, conexão das operações de ambos e fomentar visão tecnológica da digitalização pensando na mobilidade em médio e longo prazos.
Para o sócio-diretor da Liga Venture, Rogério Tamassia,quetem como missão a conexão entre grandes empresas e startups com foco em geração de negócios, é possível saber onde a transformação digital começa, mas não onde termina. “Se eu puder definir transformação digital digo que é um grande esforço de atualização, um update das organizações em ferramentas, competências e tecnologias para no final do dia permitir que as empresas sejam mais leves, eficientes e mais centradas no cliente”, acrescentou.
“No fundo, a transformação digital é componente de uma estratégia maior para as empresas, de como elas precisam se reposicionar nesse mundo V.U.C.A. (volátil, incerto, complexo e ambíguo). Conseguimos ver as empresas fazendo transformações digitais em vendas, na digitalização de processos, até homologar um fornecedor utilizando um robô ao invés de fazer isso com uma pessoa, ou ainda sensorizar uma fábrica para a Indústria 4.0”, detalhou Tamassia.
Compartilhar é fundamental
Segundo frisou o CEO da Semantix, Leonardo Santos, compartilhar é fundamental! “A empresa surgiu com o objetivo de ajudar as organizações a movimentarem o seu ecossistema. Para isso, sabemos que a colaboração é fundamental para a sobrevivência não só das empresas, mas das pessoas dentro delas também”.
Para Santos, quando se fala em transformações, muitas pessoas dizem a tecnologia é fundamental para isso. “Sim, mas se não mudarmos a cultura das organizações e das pessoas a se moverem para isso, muito provavelmente teremos um silo e esse silo não vai trazer ao nosso mercado ou à indústria um lado competitivo e evolutivo. Temos que levar esse contexto e essa cultura de dados para ajudar nas tomadas de decisões. Muitos acham que é diferencial competitivo, mas nós entendemos que é uma questão de sobrevivência”.
Ecossistema é a chave do sucesso
O presidente da Siemens, Pablo Roberto Fava contou que a companhia vem do chão de fábrica das indústrias, particularmente da automotiva, mas que atua também em infraestrutura, geração de energia, na agenda do hidrogênio, entre outros setores.
“Já há 20 anos trabalhamos na transformação digital dessas indústrias porque tem muito a ver juntar o mundo real de uma indústria com o seu mundo virtual. A base de qualquer transformação digital, o seu ponto nevrálgico é o plano de negócios, aquilo que foi definido e vai mover a transformação. A partir daí, todos que estão no entorno precisam se organizar para transformar a operação. Por isso, na minha opinião, funciona muito como customer centric, tendo o cliente no centro de tudo”, defendeu.
Fava detalhou ainda que para a Siemens o termo ecossistema é a chave do sucesso. “Trabalhamos muito em parceria com empresas que estão fazendo implementações, conhecendo desde o processo básico do cliente para que a solução seja muito assertiva e consigamos resolver o seu problema”.
Ele citou como exemplo a inauguração, há dois meses, de uma planta de ônibus da Mercedes-Benz. “Eu me lembro que em 2015 foi decidido pela Mercedes que seria feito um gêmeo digital dessa planta, um modelo que nos permitiria simular o que quer que fosse, entregando dados e informações que auxiliariam nas tomadas de decisões. Esse é um exemplo de modelos que nos ajudam a repensar as coisas, colocando a inteligência artificial e modelos de simulação que, de alguma forma, complementem a nossa massa cinzenta”.
A tecnologia e as pessoas
Sobre como é possível preparar os funcionários para as novas tecnologias, Pedro Afonso explicou que é preciso desmistificar, mostrar para as pessoas que elas já trabalham com tecnologia ou com os seus conceitos. Ele mencionou como exemplo que, para tirar um operador de montagem da produção e levar para a nova linha nova, foi feito um treinamento na Mercedes-Benz pedindo para todos que, propositalmente, pegassem os seus smartphones para um exercício. “Quando eles se viram trabalhando com a ferramenta, nós dissemos: ‘você já está trabalhando com isso’. Você só precisa direcionar agora para qual caminho seguir”.
Afonso complementou dizendo que é possível mostrar, com esse respeito, as vantagens que a partir daquele momento a pessoa vai ter. “Como deixar de fazer um trabalho manual porque alguém já vai lhe dar essa informação. Ela deve entender que o nós queremos dela é a sua expertise, a sua experiência; os trabalhos repetitivos nós deixamos para o robô fazer ou uma outra operação”, explicou.
Para Santos, a educação é um pilar fundamental, que deve estar no plano estratégico de qualquer organização. “A capacitação precisa ser frequente porque as profissões do futuro vão requerer constantemente novos conhecimentos, sejam hard skills ou soft skills”, argumentou o CEO da Semantix.
Ao longo do Painel, as discussões mostraram como a transformação digital precisa fazer parte de uma estratégia maior das organizações e de um plano de negócios bem estabelecido. O debate foi enriquecido ainda por exemplos práticos de como é possível que as empresas evoluam em suas operações por meio da tecnologia, desde que reconheçam o papel fundamental de um dos seus principais pilares: as pessoas.