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2 de dez
Painel Veículos Elétricos e Híbridos no primeiro dia do WEB FÓRUM SAE BRASIL debate panorama global e local da eletrificação
O mundo passa por uma revisão de muitos conceitos diante da necessidade de prepará-lo e preservá-lo para as gerações futuras. A questão da mobilidade urbana é um dos principais pontos de discussão para essa pauta. Diante disso, a eletrificação veicular e seus impactos no futuro da mobilidade e da sustentabilidade foram destaques do Painel Veículos Elétricos e Híbridos no primeiro dia do WEB FÓRUM SAE BRASIL.
“A eletrificação dos automóveis e de outros meios de transporte não tem volta. Estamos presenciando isso no mundo inteiro e não será diferente aqui no Brasil”, afirma o diretor de Planejamento Estratégico da HPE Automotores do Brasil, Reinaldo Muratori, moderador do Painel ao apresentar um panorama sobre a mobilidade no mundo.
O diretor de Produtos e Estratégia de Eletrificação na empresa Robert Bosch GmbH, Bruno Ahrens fez uma análise sobre os desafios e soluções tecnológicas para o mercado de massa. De acordo com Ahrens, aquecimento global, qualidade do ar e dinâmicas de mercado são os fatores que levam ao crescimento da eletromobilidade no mundo. “A descarbonização dos setores da indústria é essencial para conter o aquecimento global. O setor de transporte é um dos mais importantes nessa missão, assim como a transformação do setor energético, que deve se basear cada vez mais em fontes renováveis”.
Ele aponta a necessidade da introdução em massa de veículos elétricos, visto que a demanda por mobilidade no mundo aumentou nos últimos anos. “A única maneira de se conseguir, localmente, uma emissão zero de carbono é por meio de veículos elétricos e híbridos, no modo plug-in, ou, no futuro, com carros movidos à célula de combustível”.
Há três pilares, segundo Ahrens, que são imprescindíveis para que o mercado de carros elétricos atinja a população em massa: custos comparáveis aos veículos com motor de combustão interna, autonomia e infraestrutura para o recarregamento das baterias. O desenvolvimento do mercado de carros elétricos de passeio se dá com a existência de legislações globais e regionais de redução de emissões de carbono e incentivos fiscais para compra desse tipo de veículo. “Até agora, o desenvolvimento não tem sido aquele que esperamos para conseguir fazer a transformação que precisamos e evitar o aquecimento global”, explica Ahrens.
Micro mobilidade: Desafios e Soluções
O diretor executivo de P&D para América do Sul na empresa Schaeffler Brasil, Claudio Fernandes de Castro, aponta que o ser humano é figura central na discussão sobre mobilidade urbana. “Hoje, pensamos em como a tecnologia pode transformar essa mobilidade, que é um problema para as grandes cidades, em algo sustentável, moderno, conectado e autônomo”.
Ele lista quatro megatendências que pautam o mundo: meio ambiente e mudanças climáticas, sociedade e urbanização, economia e globalização, e tecnologia e digitalização. Castro enumera a qualidade de vida como consequência da união desses itens. “Todos nós buscamos, cada vez mais, uma melhor qualidade de vida, e isso está se tornando muito importante para os dias de hoje e para o futuro”.
Mesmo com mais de 100 anos de evolução tecnológica, o conceito do automóvel continua igual ao de quando foi idealizado pela primeira vez. “Desde o carro a vapor até o movido à célula a combustível (CaC), ele continua sendo um veículo para duas, quatro ou cinco pessoas, com tamanho suficiente para carregar todas as tecnologias”, explica Claudio Castro.
Num cenário em que a estimativa é de 2,5 bilhões de carros circulando nas ruas em 2050, ele diz que é o consumidor quem vai ditar os rumos da mobilidade urbana. “Nós não discutimos quais veículos queremos e precisamos enquanto usuários. Antes de falar em qual tecnologia vamos colocar num veículo de quatro rodas, grande, pesado, ocupando muito espaço, cabe uma reflexão sobre qual veículo é necessário”.
Em relação à automação, Castro explica que ela existe para auxiliar o ser humano com o aproveitamento do espaço e do tempo. “É necessário trazer um veículo, ligado à micro mobilidade da cidade, para que ele se desenvolva no ambiente urbano sem ter os prejuízos de disputa de espaço e de congestionamento”.
O palestrante, ainda, alerta para a necessidade de levar em consideração a cadeia energética para a eletrificação no momento de colocar os veículos elétricos nas cidades. “Num prédio que tenha 200 moradores com carro, precisaria haver 200 carros conectados à tomada. Haveria uma sobrecarga das instalações elétricas nesse local”.
Desafios e Oportunidades na Hibridização de Veículos Flex Fuel
Fabio Kazuki Uema, membro do Conselho Superior da SAE BRASIL, destacou os desafios em relação ao meio ambiente que são motivadores para o processo de hibridização: a mudança climática, a qualidade do ar e a eficiência energética. “Não há tempo a perder para reduzir as emissões de CO2. Se nada for feito para impedir a mudança climática, até 2050 teremos um aumento de 3,7 °C a 4,8 °C. Se tomarmos algumas ações para reduzir o nível de CO2, o aumento será de 2 °C”.
Uema define veículo híbrido (full hybrid) como um carro que possui um motor elétrico atuando em conjunto com um motor a combustão convencional, gerenciados por uma unidade de controle de potência (PCU, em inglês). Ele aponta que a nova geração de carros vai ajudar na missão de reduzir as emissões de poluentes. “À medida que migramos para novas tecnologias, teremos reduções de 90% na emissão de gás carbônico em 2050”.
Um veículo híbrido flex é aquele que pode ter como combustível, além da gasolina, o etanol, segundo Fabio Uema. Esse veículo conta com o sistema de partida a frio, característico de automóveis movidos a etanol, sendo usado juntamente ao motor elétrico e à bateria.
Nos automóveis híbridos, o motor elétrico é responsável pela partida do veículo, explica o conselheiro da SAE Brasil. O motor convencional a combustão participa do processo durante a condução regular e a aceleração. No momento de desaceleração e frenagem, há a carga regenerativa do motor elétrico na recarga da bateria do carro.
Ele destaca a importância de combustíveis renováveis, como o etanol, para os veículos híbridos flex. “A cana de açúcar absorve o CO2. Então, o etanol emite menos poluentes do que híbridos convencionais a gasolina. Temos a melhor combinação se unimos a tecnologia flex com a híbrida”.
As três perspectivas da eletrificação abordadas no Painel apontam que esse tipo de propulsão já é uma realidade irreversível para a mobilidade urbana, mesmo que ainda não seja realizada em larga escala para resolver desafios relacionados a clima, urbanização, qualidade do ar e conectividade. Os participantes concordam que fatores ambientais e a qualidade de vida precisam ser considerados para a evolução das tecnologias e para a presença em massa de veículos elétricos e híbridos nas cidades, e que o Brasil possui um importante papel por ter uma matriz energética favorável e permitir a junção das tecnologias de eletrificação e do flex fuel.