4 de dez
Painel Operações Industriais Conectadas discutiu no WEB FÓRUM ações que estão contribuindo no processo de transformação digital
Nos últimos anos, a indústria automobilística vem desenvolvendo tecnologias para se manter atualizada e conectada, por meio de uma rede de relacionamento entre pessoas, tecnologia e os meios de transporte, oferecendo soluções inovadoras e produtivas, com foco na mobilidade inteligente e sustentável.
O painel Operações Industriais Conectadas, do último dia de WEB FÓRUM SAE BRASIL trouxe a transformação digital como uma ferramenta de integração de serviços, montadoras, concessionárias e indústrias da cadeia produtiva, que impactará cada vez mais a mobilidade. Participaram do painel o sócio Diretor da Prime Action Consulting, Carlos Campos; o gerente de Manufatura e membro do conselho global da Industria 4.0 da Eaton, Edinaldo Fâncio; o CIO da Mercedes-Benz do Brasil, Maurício Mazza; e o diretor de Integração e Inovação Logística da Natura & Co., Nestor Felpi, que contaram com a moderação do coordenador FGV, no tema Gestão de Inovação e Tecnologia – Indústria 4.0 e gerente de Vendas Estratégicas da Rockwell Automation, Gustavo Peçanha Lima.
A transformação dentro das operações industriais é uma oportunidade de aproveitar melhor as soluções, atendendo desafios distintos, como o novo powertrain e a eletricidade (nos âmbitos de eletrificação, hidrogênio e híbridos). “Dessa forma podemos criar uma unidade global para oferecer a melhor proposta para os clientes”, detalhou o gerente de Manufatura da Eaton, Edinaldo Fâncio.
Para ele, os atuais processos se enquadram no novo sistema colaborativo, no qual a empresa deixa de ser única e se torna um ecossistema, sendo essa uma oportunidade de melhorar os processos, independente do tipo de produto. Mesmo com as ameaças existentes, como em qualquer ação, as oportunidades de mercado ainda se sobressairão tanto em relação ao produto quanto ao processo.
Nesse contexto, ouvir as demandas dos clientes é o jeito mais assertivo de direcionar a transformação digital, como explicou o sócio Diretor da Prime Action Consulting, Carlos Campos. Segundo ele, toda a questão da digitalização já vinha ocorrendo dentro do setor automotivo, mas este ano, com a pandemia da Covid-19, o processo foi acelerado. Entretanto, muitas empresas estavam despreparadas. “É possível observar esse despreparo nos processo e conveniência dentro da concessionária, que, na maioria das vezes, não oferece facilidades para o cliente”, alertou.
O mercado ainda tem muitas oportunidades para fomentar a digitalização e a transformação digital. “A tendência da indústria de se transformar e trazer mais mobilidade com carros elétricos e autônomos transformando radicalmente o setor de distribuição. Vemos uma predisposição dos distribuidores de migrar de um modus operandi de comercialização de produtos para um modelo cada vez mais voltado para a venda de serviços de mobilidade”, detalhou Campos.
Porém, esse cenário ainda não está totalmente definido, principalmente em termos de monetização, modelos de negócio e dos contratos de distribuição das montadoras. As projeções indicam que enquanto em 2016 o mercado de mobilidade dos EUA, China e Europa foi de 70 bilhões de dólares, a previsão para 2025 é de que esse valor seja de 500 bilhões de dólares. “Isso evidencia uma forte mudança vindoura que atingirá todos os setores da cadeia”, afirmou Campos.
A transformação digital e as novas oportunidades para a indústria
As transformações digitais trazem oportunidades, mas também exigem muito de quem trabalha com este foco, pois apresenta continuamente situações desconhecidas. As indústrias não são mais uma cadeia única: hoje elas participam de redes, ou seja, todo mundo está fluindo em volta da cadeia produtiva e de serviços da mobilidade e pode começar a ocupar diferentes lugares dentro dela, atuando em papéis diversificados.
“Esse era um movimento que já estava acontecendo, interage diretamente com o tamanho do mercado de mobilidade e atrai muitas pessoas que tentam se reposicionar. De certa forma, a pandemia mudou drasticamente o cenário e algumas empresas não perceberam”, pontuou o CIO da Mercedes-Benz do Brasil, Maurício Mazza.
Ele destacou que a preocupação com os clientes sempre foi um critério promovido pela indústria. “Mas a verdade é que as grandes empresas nunca se preocuparam de fato com o cliente, mas, sim, com a forma como ele vê o seu produto. Essa é a primeira vez que os olhos estão mais direcionados para o cliente do que para o produto. Em uma loja física, por exemplo, hoje precisamos cuidar diretamente da saúde e do bem-estar do cliente, verificando se há espaço para o distanciamento social, se tem álcool em gel para a higienização, entre outros pontos. Antes da pandemia nossos olhos estavam voltados apenas para o carro e como ele poderia ser mais atraente ao consumidor”.
Para Mazza, essa foi a oportunidade de começar a olhar a conveniência e humanizar a relação da empresa com o cliente. “Devemos incluir todos aqueles que, de alguma maneira, interagem com os produtos: do motorista do caminhão até o passageiro do ônibus, assim como o operador, a frentista e os carregadores. Falamos das pessoas como humanos e não como pedaços da cadeia. Essa é uma das principais mudanças que a pandemia trouxe, alterando o foco da transformação digital como ela estava acontecendo e como ela acontecerá daqui para frente, com o ser humano no centro da rede”.
O exemplo da indústria de cosméticos
A preocupação com a entrega de bem-estar e conveniência aos clientes não é uma novidade na indústria de cosméticos, pois o setor há muito tempo já viabiliza formas distintas de estar conectado com as necessidades de diferentes públicos, seja pelo e-commerce ou pela revendedora de produtos e seu catálogo. Essa relação foi abordada pelo diretor de Integração e Inovação Logística da Natura & Co., Nestor Felpi. “Em 2010, a empresa iniciou uma jornada de digitalização e de multinacionalidade, aprimorando suas ações em venda direta, nas lojas e e-commerce em um processo no qual passamos de apenas consultoras analógicas para a digitalização. Nesse sentido, a pandemia foi um grande viabilizador para a digitalização de todo o processo da empresa”.
O resultado positivo pode ser comprovado com o aumento de 500% nas vendas de e-commerce da Natura. “Trabalhamos muito alinhados com o foco no cliente, olhando para suas necessidades e demandas, assim como a melhor forma de atendê-los. No entanto, esse é um processo 360 graus, no qual também direcionamos nossos esforços para toda a cadeia, desde a revendedora, a produção na fábrica, a lojista ou o motorista. É uma empresa que foca no ser humano”.
Observando outros segmentos é possível perceber que ainda existe a necessidade de trabalhar uma cultura digital dentro das concessionárias. “As montadoras estão conscientes disso, assim como os grandes grupos, e existe um movimento para melhor atender as novas demandas de digitalização e conectividade, que necessariamente passarão pela estruturação da tecnologia e do digital dentro das concessionárias”, complementou Carlos Campos.
A mensagem que o painel deixou é que as inovações vêm de pessoas. “Elas não surgem das empresas, de tecnologias: elas nascem das pessoas e são criadas por elas, usando os modelos de processos e as tecnologias”, salientou o moderador do painel Gustavo Peçanha Lima, coordenador e pesquisador na FGV.